terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Baile da bile



“Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
Eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
Dançando o baile do medo.”
DRUMOND



Eu tenho ânsias de vômito vorazes
vociferando meu corpo.
No espelho não me vejo,
não reconheço mais este magro verso...

Lá fora o mundo ri
histericamente!
Eu olho para o abismo,
a ciranda do ódio que roda
serelepe com o revólver na mão.

No caminho de Hamelin,
como ratos saudando Hitlers
com rotundos rojões-bandeiras
dançamos o baile da bile.

Eu tenho ânsias de vômito vorazes
vociferando meu corpo
quando te vejo
dançando o baile do medo.

Lá fora você ri,
meu irmão amado,
histérico na multidão!
Serelepe com o revólver na mão.

Segue o flautista armado
e eu não te reconheço mais
na escuridão de bandeiras
debandando da razão.

Eu tenho ânsias de vômito.
Eu choro na escuridão...
enquanto dançam o baile do ódio
e matam meu outro irmão!

Lá fora é uma festa
histérica imensidão
que anuncia o que me espera
a morte ou solidão.

Tenho ânsias de vômito
vociferando vorazes
vozes.
Eu as acolho no meu colo
ao te ver na multidão
serelepe com a arma sangrando
o sangue do meu outro irmão.

sábado, 29 de outubro de 2016

I exist


To Stephen Crane.

I've turned my back to the world

as it had turned against me


But truly
It hasn't even seen me

Here

Screaming. 

domingo, 5 de julho de 2015

Auto-retrato

Meus poemas estão cada vez piores
Perdendo o som e a harmonia
ladrem loucos em ruas vazias

Talvez sejam meu espelho
envelhecido e sem cabelos
ganhando peso e afasia

Ou talvez como a criança
sem a infância, a poesia
também se perca no escuro

Não. Em pedra fria
também se colhe.
Milharal seco também abriga.

No ódio e na bile
na apatia e na azia
rascunho uma epopéia paulista.

A line of sun in Winterland.

It's a strange dream of glory
and untold stories
A basket full of stars
inside a hollow egg

And the sun above us
in complete dismay
My cock hurts when you come
It's summer and I nurture the pain.

Dracônico

Pelas ventas o fogaréu
rebate o breu da noite
iluminando num açoite
a mata densa escura

Espumo brasa em fúria
Qual cão uivando à lua
expulso para a rua
minha negra alma espúria

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Vampiro

Esparramo os ossos pelo chão.
Das mãos escorre o sangue
Os pedaços de meu filho
e seu aberto coração


Ossos finos e brancos, pequenos.
Diletosamente guardam o menino.
Com receio, o vermelho bebo.
Sorrio, tem gosto de vinho.