segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Nublado

I

Há dias em que me perco
Quando tua pura retina,
Que sempre foi meu cerco,
Cega-se em minha neblina.

II

Dia que se molda noite,
Eclipse, cósmica cortina.
Ânfora da luz de açoite,
Neve em nuvem fina.


Pretensos pretendentes

I

Cansei dos pseudo-poemas,
Tuberculose que se adora.
Obnoxiosos enfizemas
Da poesia bajuladora.

II

Triste que carrega a cruz
De não podendo ser poema,
Como quem não é avestruz,
Contenta-se em ser ema.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Memória da chuva


I

Chove demasiadamente.
A massa d'àgua incomoda,
Faz pesar a minha mente,
a dor, o amor, a moda.

II

Chove como se não houvesse
Um amanhã pra chover.
Como se um Deus chorasse
Num firmamento por haver.


segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Passageiro

I

No terminal aguardo
A Minha vida passar.
Passa um ônibus fardo
vai-se outro de pesar.

II

Espero a chegada d'alegria,
Porém para o carro razão
De ferro frio a lataria
Cinza, escuro, sem ilusão.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Ontologia.


I

Escrevi minha alma no vento
E a dei a você pensamento
Eterno volver do interno


II

Em castelos d'areia construo sonhos
E teu nome os faz pássaros risonhos
Interno revolver do eterno


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Libido

I

Lambo os lábios em labor obsceno.
Vermelhas mãos em movimento.
Vejo em vida o vulvulante vaso
Da louca luxúria alimento.

II

Descende meu desejo desenfreado
Da libertinagem latina do lácio,
Espanhola espelhando lábio
Que devora libidinado.


sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Se

Ah! Se eu fosse um guerreiro
Da poderosa elite romana,
Eu a arrancaria de um mosteiro
E a arrastaria para minha cama.

Se não fosse eu um poeta,
Pobre e mísero romântico,
sem uma fé pra ser profeta,
sem uma balada ou cântico.

Se não perdesse tudo.
Se eu não tivesse medo,
talvez de ficar mudo,
talvez de morrer cedo.

Se tudo não me mudasse,
Se nada existir pudesse,
Eu teria toda a classe,
se o se não me tivesse.

Confraria

I

Ó flor do belo prado,
Despejas com amor tua beleza
Sobre o Eros mentiroso,
Encantas a bela virgem
Com o prazer do teu olor.

II

Das rugosas pétalas,
O afago amoroso
Esconde o acúleo desdém.
Pois que as flores focalizadas
Alimentam um narciso obscuro.



À Gustavo Scudeller.


quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Maturidade


E é chegada a hora da debandada
Quando não se pode mais morar na mesma toca
O zorro com sua velha raposa
Pois as caudas se tocam e as mordidas comem



Pudor Perdido

Pássaros passeiam elípticos
No horizonte origem do sonho
Zéfiro sussurra saboroso
Plumosas palavras de Eros
E a pálida Palas de pedra
Polida a pose pudorosa
Queda o queixo a cara cora