sábado, 29 de setembro de 2007

Maçã

Alienadamente te devoro
esquecido de tudo.

Só duma coisa me ocupo:
Saber se tu és limpa!
Pelo menos na aparência
da casca vermelha.
Se fores bela, te comerei pois
o sabor, o sabor...
o sabor da vida eu esqueci.
E se és a morte, se o ácido, o tóxico
tu carregas. . .

Pouco me importo!

Antes tu comprada no Pão de Açúcar
que outra de um pé qualquer!

domingo, 23 de setembro de 2007

Dom Quixote desiludido.

Onde estará meu príncipe encantado?
Onde estará que não o vejo?
Cortejará uma princesa no Tejo?
Combaterá o Dragão conspurcado?

Aonde anda meu cavaleiro errante?
Preso em sítio encarcerado?
Lutando numa terra distante?
Aonde andará o meu errado?

Não sei, não distinguo, só sinto
A falta do lamúrio sucinto
Na infinda estrada enterrado
Por quimeras, sem fé, dissimulado.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Matrimônio

Uma mulher canta uma canção triste
Sozinha, nua, em seu quarto azul.
Um homem bebe uma cantiga antiga
consigo mesmo num bar labirinto.

Paixão Pós-Moderna



I

Tocar-te sem realmente tocar
Entre nós há o vento e o verão
Há a eletricidade não estática

II
Com dedos se esparrama o coração
Num mar de morfina
e nele nada uma Vênus sem pernas


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A dialética do amor entre as flores

Como poderia descrever a beleza de um amanhecer?
quando do alto cume montanhoso surge o sol,
seus raios iluminando o verde vale,
seu calor irradiando vida em todos os seres.
O que seria das flores sem o amanhecer?

Um girassol de plástico hasteado com um arame
pode sentir a vida solar
o mais belo narciso do jardim utópico
se perde em sua beleza
O que seria do amanhecer sem as flores?

Da varanda de um apartamento
sorri o girassol-plástico para o amanhecer
e estende suas pétalas aramadas em busca da luz
No interior de uma estufa ideal
o raio solar toca a alma narcísea

domingo, 16 de setembro de 2007

Amor Revelado.

A primeira vez que te vi
Não dei por mim.
Te olhei com olhos opacos
Negando a tua luz
Medo.

Na segunda vez não te vi
Senti tua boca.
Colei meu cheiro no teu
Mesclando afagos
Calor.

Então me vi, morri
Nos teus olhos
Renasci em teu colo
Trocando nossas almas
Amor.


Mothernidade

Mãe. Nascida revolucionária.
Hipócrita
Inobremente burguesa.

Gerando filhos em esteiras fordianas.
Educando-os com palmatória de aço
oculta sob chocolates.

Mãe Medéa Succubus.
Enganadora enganada.
Afaga e esgana.

Mãe Madrasta Moderna.
Criatura criadora consumista.
Gera vicia consome.

Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Meus olhos moldaram meu coração
A vi tão bela, tão serena
E meu espírito inflou de paixão.

Depois Teresa me matou.
Eu a matei também depois.
O mundo ao redor mudou
O nós ao eu e ao você se antepôs.

Então Teresa se perdeu
E eu perdi minha ilusão.
O mundo em si choveu
O nós tornou-se solidão.


À Tradição.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Silêncio.

As vezes eu me pergunto
O por que de ser tão calado.
Quando a palavra me consome

O pensar se condensa em raiva
E imagino na minha boca um raio.
Uma explosão gigantesca.

Sinto o pulsar acelerado.
Na garganta a bile encalacra.
E então, me calo.

sábado, 1 de setembro de 2007

Auto Ajuda

Pegue um receptáculo cristalino
Moldado em infernal fogo
Do corpo das areias arábicas
Retiradas dum deserto esquecido.

Preencha seu receptáculo infindo
Com o líquido mais puro,
Nascente em montanhas sagradas
Pelo toque do choro divino.

Espalhe no receptáculo restrito
O grão da pura cana sumo
Crescido em grandes terras aradas
Por mãos cansadas colhido.

Então sorva tal líquido.
Beba como tolo,
Beba em goladas.
Grão em água diluído.